O pai expulsou o filho de casa por não aceitar a sua orientação sexual. Vinte anos depois eles se reencontram, o filho agora é uma drag queen, e eles têm o tempo de uma vela se consumir para acertar as diferenças.
O pai, professor aposentado, reencontra o filho, uma drag queen, anos depois de romperem relação por não aceitar a orientação sexual do filho e sua escolha pela arte drag. Eles buscam uma reconciliação no espetáculo A Vela, escrito por Raphael Gama.Com direção de Elias Andreato, a montagem traz os atores Herson Capri e Leandro Luna, interpretando pai e filho, respectivamente. Com direção de Elias Andreato, a peça estreia Teatro das Artes no dia 04 de março e faz temporada ao longo do mês às sextas e sábados, 21h e domingos, 20h e durante o mês de abril às sextas, sábados às 19h e domingo, 18h, até o dia 24.
O velho professor Gracindo, decide se mudar para um asilo, por conta própria, depois de se ver muito sozinho após o falecimento de sua esposa. Rompeu relações com o filho há muito tempo, quando descobriu sobre sua orientação sexual, o expulsando de casa.
Prestes a se mudar, Gracindo precisa empacotar suas coisas e acaba revirando seu passado enquanto a falta de luz o obriga a usar uma vela. Porém, quem chega para o ajudar nessa mudança é Cadú, ou melhor, Emma Bovary, seu filho drag queen que retorna para tentar as pazes com seu velho pai e entender o que fez um homem tão culto agir de forma tão violenta.
Mas, Cadú, ou Emma é categórico: eles têm apenas o tempo da vela que o pai acendeu se consumir para essa conversa se resolver.
“Éuma história contada com delicadeza para que o espectador possa se identificar com os personagens. O nosso objetivo é mergulhar numa relação verdadeiramente teatral e humana. O teatro sempre será a arena necessária para debater todas as formas de preconceitos”, fala o diretor Elias Andreato.
Para Leandro Luna, o espetáculo aborda as relações humanas e as feridas familiares que todos temos e nos identificamos. “É muito importante, principalmente nos dias de hoje, estarmos em constante discussão sobre as diferenças e estimularmos a tolerância e o respeito ao próximo. Vivemos tempos muito polarizados, onde o conceito de moral e conservadorismo tem alimentado a sociedade com discursos odiosos, segregacionistas, em vez de criar o diálogo respeitoso e democrático. Precisamos, através da Arte, propor o discurso de temáticas que incentivem o respeito entre os indivíduos, principalmente, a partir do ponto de vista da educação familiar.”
Já Herson Capri ressalta a atualidade do tema. “A peça discute preconceito, acolhimento e a relação familiar de uma forma inteligente e sensível. Os preconceitos estão por aí, à nossa volta, o tempo todo. Convivemos, de uma forma ou outra, com pessoas conservadoras e até negacionistas. Acho que a arte tem o dever de abordar os temas que tocam e afligem a sociedade. Acolher as diferenças é um deles. E negá-las, também é preciso ser discutido.”
Para a construção do texto, o autor Raphael Gama recorreu da percepção que teve ao constatar a dificuldade em dialogar com sua avó, uma mulher tradicional, com resistência em entender as mudanças que aconteciam na sociedade; e o quanto a incompreensão familiar afetava as escolhas de vida das drag queens em geral. “Eu convivo com diversos artistas queers de São Paulo. Conheço pessoas que foram expulsas de casa e o fato dessa comunidade seguir sendo tão negligenciada e odiada, mesmo em meio à tanta informação, me fez querer falar do assunto no ambiente familiar e sobre a importância do diálogo como ferramenta de cura”, explica.
Relações humanas
Entre álbuns de fotos, livros clássicos, música e poesia, os personagens vão revirando o passado para entender o presente e enfrentar o futuro. Ambientada em uma casa com poucos móveis e algumas caixas, o elemento central em cena é uma janela, onde o tempo e os segredos são discutidos.
A peça é entremeada por trechos de famosos escritores e pensadores, com músicas que definiram gerações como Carpenters, Edith Piaf e Dalva de Oliveira. O drama, vivido entre pai e filho, pretende aproximar as questões pertinentes da sociedade contemporânea, levando o espectador a entrar em contato de maneira sensível, com temáticas extremamente relevantes: as relações humanas e os preconceitos instaurados na estrutura social e familiar.
“A Vela não é sobre mocinhos e bandidos, não é sobre vítimas e vilões. É sobre algo que todos nós conhecemos intimamente. É sobre família e amor. Sobre erros humanos. Sobre conflito de gerações e de identidades. E a importância do diálogo em tempos tão odiosos. Mais do que falar sobre quaisquer tabus ou polêmicas, quando falamos sobre amor falamos sobre reflexão e cura,” conclui Raphael Gama.
Ficha técnica:
Texto: Raphael Gama.
Direção: Elias Andreato.
Elenco: Herson Capri (Gracindo) e Leandro Luna (Cadú/Emma Bovary).
Assistente de direção e produção: Rodrigo Frampton.
Iluminador: Cleber Eli.
Operador de luz e som: Cleber Eli.
Contraregragem e Camarim: Renato Valentte.
Foto: Caio Gallucci.
Caracterização e concepção de cenário: Elias Andreato.
Visagista: Márcio Merighi.
Assessoria Jurídica: Diego A. Coutinho.
Assessoria de Imprensa: Morente Forte.
Gestão de Marketing: R+Marketing.
Produtores: Leandro Luna e Priscilla Squeff.
Produção: VIVA Cultural e Luna Produções Artísticas.
Realização: Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo a Cultura.
A VELA
Local: Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315 – Centro)
Data: 15 de Outubro (Sábado) às 21h
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos